Editora no Cambuci vende arquivo com mais de 7 toneladas de gibis

Uma editora de São Paulo pôs à venda na última semana o sonho de consumo de qualquer fã de histórias em quadrinhos e colecionadores: uma “montanha de gibis” em que cada exemplar custava apenas 5 centavos.

Trata-se de um arquivo de revistas importadas ao longo de 25 anos, que foram sendo guardados em um porão da editora Devir. Foi Douglas Quinta Reis, diretor editorial do grupo responsável pela venda, que descreveu o lote como uma montanha. Na prática, a coleção toma as paredes de três longos corredores do galpão localizado no bairro do Cambuci. São mais de 2.200 caixas lotadas, um total que pode ultrapassar 250 mil HQs, segundo a estimativa da empresa – são mais de 7 toneladas de revistas.

A Devir começou a funcionar em 1987 como uma importadora de gibis. Ao longo de todo este tempo, todas as revistas que iam sobrando dos lotes importados todas as semanas eram guardados nessas caixas. “Diria que tudo deve pesar cerca de 12 toneladas e ter mais de 300 mil HQs. Fizemos uma estimativa”, disse Reis. Cerca de 70% do lote é de revistas das editoras Marvel, DC, Image e Dark Horse, mas há muito material independente e alternativo, mangás e quadrinhos eróticos. Muitas revistas também aparecem repetidas, em pacotes que chegam a ter 30 ou 40 iguais.

A “pegadinha” da promoção que fazia cada revista custar tão pouco é que só seria vendido o lote completo, por R$ 12,5 mil, e o comprador teria que ir até a editora buscar o produto – junto com um caminhão dos grandes. “Levaria a vida inteira para avaliar tudo o que pode ou não ter valor ali no meio”, disse Reis, explicando o motivo da venda em lote. “Certamente há relíquias ali. O problema é saber onde.”

Negócio fechado
Mesmo assim, não faltaram interessados, segundo Paulo Rodrigues, que foi o principal responsável pela importação dos gibis que agora estão sendo vendidos. Em entrevista, ele contou que o arquivo digno de museu foi vendido no final da última semana.





“Um monte de gente se interessou pelo lote. Chegamos a receber várias ofertas, até mesmo de colecionadores de gibis individuais. Quando estávamos começando a conversar com um deles a Comix (loja de HQs) veio e fechou o negócio. Foi uma questão de minutos”, contou.

Segundo Jorge Rodrigues, sócio da Comix, a compra foi feita “no escuro”, sem que ele chegasse a avaliar a mercadoria e apenas acreditando no que foi anunciado pela editora. “Imagino o que pode existir no arquivo, pois trabalho há 25 anos com o produto e com eles, e conheço o material”, disse ao G1. “Sei que tem muita coisa que só vale para fazer fogueira, mas tenho certeza que tem algum ouro lá também.”

O empresário disse que se preocupou que algum colecionador individual comprasse o lote e o “escondesse”. Segundo ele, sua loja tem um caminhão com capacidade de carregar 3 toneladas, e na próxima semana ele deve começar a levar o lote para seu galpão em várias viagens. “Eu gostaria de garimpar tudo, mas não sei se vou conseguir fazer como quero.” Segundo ele, o material deve ser colocado à venda na loja e em eventos de que ela vai participar.

Espaço
Reis contou que nem pensou em ficar com o estoque para sua coleção pessoal. “Em casa eu já tenho mais de que minha mulher gostaria, e é bem menos que o lote total. Não teria espaço para guardar tudo o que há ali.”

A falta de espaço foi a principal motivação para que a Devir decidisse vender o lote de gibis. Reis explicou que a editora tem filiais em países como Espanha e Portugal, e que há um trabalho para que as filiais passem a atuar de forma mais próximas, fazendo um intercâmbio de jogos e publicações. O espaço tomado pelas mais de 250 mil revistas vai ser usado para estoque de jogos de tabuleiros e outras opções de RPG, que vão ser mais exploradas na Devir. “Novos projetos vão exigir espaço, e tínhamos que liberar espaço”, disse.

Foi uma decisão difícil, segundo ele, “tanto que demoramos para passar do discurso à venda. Mas a vida continua.”

Fonte: G1





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